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Animula

"Emana da mão de Deus, da alma simples" Para um mundo plano de mudanças de luzes e ruídos, Para claro, escuro, seco ou húmido, frio ou quente; Movendo-se entre as pernas das mesas e cadeiras, Subindo ou caindo, agarrando-se a beijos e brinquedos, Avançando com ousadia, repentinamente alarmado, Recuando para o canto do braço e do joelho, Ansioso por ser tranquilizado, tendo prazer No brilho perfumado da árvore de Natal, Prazer no vento, no sol e no mar; Estuda o padrão iluminado pelo sol no chão Com veados correndo em volta de uma bandeja de prata; Confunde o real e o fantástico, Contenta-se com cartas de baralho e reis e rainhas, O que as fadas fazem e o que os servos dizem. O pesado fardo da alma em crescimento Confunde e ofende mais, dia após dia; Semana após semana, ofende e fica mais perplexo Com os imperativos de "é e parece" E pode e não pode, desejo e controlo. A dor de viver e a droga dos sonhos Enrolam a pequena alm...

Marina

           Quis hic locus, quae,            regio quae mundi plaga? Que mares, que praias, que rochas cinzentas e que ilhas Que água lambendo o arco E o cheiro de pinheiro e do tordo cantando no meio da neblina Que imagens regressam Minha filha. Aqueles que afiam o dente do cachorro, ou seja Morte Aqueles que brilham com a glória do beija-flor, ou seja Morte Aqueles que se sentam na pocilga do contentamento, ou seja, Morte Aqueles que sofrem o êxtase dos animais, ou seja, Morte Tornaram-se insubstanciais, reduzidos por um vento, Um sopro de pinheiro e a névoa da floresta Por essa graça dissolvida no lugar O que é esse rosto, menos e mais claro O pulso no braço, cada vez menos forte - Dado ou emprestado? mais distante que as estrelas e mais perto que os olhos Sussurros e pequenas risadas entre folhas e pés apressados Sob o sono, onde todas as águas se encontram. O gurupés rachou com o ...

O Cultivo das Árvores de Natal

Existem várias atitudes em relação ao Natal, Algumas das que podemos desconsiderar: O social, o entorpecido, o patentemente comercial, O turbulento (os pubs abertos até à meia-noite), E o infantil – que não é o da criança Para quem a vela é uma estrela e o anjo dourado Abrindo as suas asas no topo da árvore Não é apenas uma decoração, mas um anjo. A criança encanta-se diante da Árvore de Natal: Deixem-na continuar com o espírito de admiração Na Festa como acontecimento não aceite mas como pretexto; Para que o êxtase brilhante, o espanto Da primeira Árvore de Natal lembrada, Para que se deliciem com as surpresas, com as novas posses (Cada uma com o seu cheiro peculiar e excitante), A expectativa do ganso ou do peru E o esperado espanto em sua aparência, Para que a reverência e a alegria Não possam ser esquecidas em futuras vivências, Na hábito entediado, da fadiga, do tédio, A consciência da morte, a consciência do fracasso, Ou na piedade do con...

Secção 1: O FUNERAL DOS MORTOS

Nam Sibyllam quidem Cumis ego ipse oculis meis vidi in ampulla pendere, et cum illi pueri dicerent: Sibylla ti theleis; respondebat illa: apothanein thelo. I. O FUNERAL DOS MORTOS Abril é o mês mais cruel, gerando Lilases em terra morta, fundindo  Memória e desejo, vibrando raízes  De tédio na chuva primaveril. O inverno abrigou-nos quentes, cobrindo A terra por neve esquecida, alimentando Com secos tubérculos um pouco de vida. O verão surpreendeu-nos, caindo sobre o Starnbergersee Com um aguaceiro; parámos na colunata, E continuámos à luz do sol, para o Hofgarten, E bebemos café e conversámos uma hora. Bin gar keine Russin, stamm" aus Litauen, echt deutsch. E quando éramos crianças, em casa do arquiduque, Meu primo, levou-me a passear de trenó, E eu tive medo. Disse-me, Marie, Marie, segura-te firme. E deslizámos abaixo. Por essas montanhas, onde te sentes livre. Leio, quase toda a noite, e parto para o sul no inverno. Que raízes são essas que se agarram, que ramos crescem Fo...

Secção 2: UMA PARTIDA DE XADREZ

 II. UMA PARTIDA DE XADREZ A Cadeira onde se sentava, como um resplandecente trono Brilhava na mármore, onde o espelho  Apoiado em colunas trabalhadas como  exuberantes vinhas De onde um Cupido dourado espreitava (Outro escondia os olhos com a asa) Duplicava as  chamas de um candelabro de sete braços Reflectindo a luz sobre a mesa como se O brilho das jóias rosáceas se lhes juntasse, Vindo das caixas de cetim derramado em rica abundância; Em frascos de marfim e vidro colorido Abertos, espreitavam estranhos perfumes sintéticos, Unguentos, em pó ou líquido, - perturbantes, confusos E afogou os sentidos em odores; agitados pelo ar Que soprava da janela, estes ascenderam Alongando as demoradas chamas das velas, Na laquearia l ançaram o seu fumo Agitando o padrão caixotado no tecto. Uma larga madeira marinha nutrida por cobre Verde e laranja, emoldurado por uma pedra colorida, Em que à pálida luz um golfinho esculpido nadava. Acima da antiga cornija foi exibida Como se um...

Secção 3: O SERMÃO DO FOGO

 III.  O SERMÃO DO FOGO O dossel do rio quebrou-se: os últimos dedos das folhas Prenderam e afundaram-se no banco molhado. O vento Inaudível atravessa a terra castanha. As ninfas partiram Doce Tamisa, corre suave, até que minha música termine. O rio não tem garrafas vazias, papéis de sanduíche, Lenços de seda, caixas de cartolina, beatas de cigarro Ou outro testemunho de noites de verão.  As ninfas              partiram E os seus amigos, os herdeiros vagabundos dos presidentes de câmara da cidade;  Partiram, sem deixar o endereço das moradas. Junto às águas de Leman sentei-me e chorei... Doce Tamisa, corre suave até que minha música termine, Doce Tamisa, corre suave, pois não falo alto nem longamente. Mas nas minhas costas em fria explosão Os meus sentidos ouvem O gargalhar dos ossos e o riso espalhar-se de ouvido em ouvido. Um rato rastejou suavemente na vegetação Arrastando a sua barriga viscosa pela marge...