Animula

"Emana da mão de Deus, da alma simples"
Para um mundo plano de mudanças de luzes e ruídos,
Para claro, escuro, seco ou húmido, frio ou quente;
Movendo-se entre as pernas das mesas e cadeiras,
Subindo ou caindo, agarrando-se a beijos e brinquedos,
Avançando com ousadia, repentinamente alarmado,
Recuando para o canto do braço e do joelho,
Ansioso por ser tranquilizado, tendo prazer
No brilho perfumado da árvore de Natal,
Prazer no vento, no sol e no mar;
Estuda o padrão iluminado pelo sol no chão
Com veados correndo em volta de uma bandeja de prata;
Confunde o real e o fantástico,
Contenta-se com cartas de baralho e reis e rainhas,
O que as fadas fazem e o que os servos dizem.
O pesado fardo da alma em crescimento
Confunde e ofende mais, dia após dia;
Semana após semana, ofende e fica mais perplexo
Com os imperativos de "é e parece"
E pode e não pode, desejo e controlo.
A dor de viver e a droga dos sonhos
Enrolam a pequena alma no assento da janela
Atrás da Enciclopédia Britânica.
Emite da mão do tempo a alma simples
Irresoluto e egoísta, disforme, coxo,
Incapaz de avançar ou recuar,
Temendo a realidade calorosa, o bem oferecido,
Negando a importunidade do sangue,
Sombra das suas próprias sombras, espectro na sua própria escuridão,
Deixando papéis desordenados num quarto empoeirado;
Vivendo primeiro no silêncio depois do viático.

Orai por Guiterriez, ávido de velocidade e poder,
Por Boudin, feito em pedaços,
Por este que fez uma grande fortuna,
E esse que seguiu o seu próprio caminho.
Orai por Floret, pelo javali morto entre os teixos,
Orai por nós agora e na hora do nosso nascimento.




ARIEL POEMS, 1927-1954
T. S. Eliot Complete Poems 1909-1962
Harcourt, Brace & World, 1988.
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa

Outros poemas

Jornada dos Magos

Secção 1: O FUNERAL DOS MORTOS

Porque não espero mudar de novo