Jornada dos Magos

"Tivemos um resfriado,
Apenas a pior época do ano
Para uma jornada, e uma jornada tão longa:
Os caminhos profundos e o clima rigoroso,
No auge do inverno."
E os camelos irritados, com os pés doridos, refractários,
Deitados na neve derretida.
Houve momentos em que nos arrependemos,
Dos palácios de verão nas encostas, dos terraços,
E das raparigas de seda trazendo gelados.
Depois os camelos amaldiçoaram os homens e resmungaram
E fugiram, desejando os seus licores e mulheres,
E os fogos da noite extintos, e a falta de abrigos,
E as cidades hostis e as vilas inimigas
E as aldeias sujas e cobrando preços elevados:
Passamos por momentos difíceis.
No fim preferimos viajar a noite inteira,
Dormindo aos bocadinhos,
Com as vozes cantando em nossos ouvidos, dizendo
Que tudo isto era uma loucura.

Então, ao amanhecer, descemos para um vale temperado,
Molhado, abaixo da linha da neve, com cheiro de vegetação;
Com um riacho corrente e um moinho de água batendo na escuridão,
E três árvores no céu baixo,
E um velho cavalo branco que galopava pela campina.
Depois chegamos a uma taberna com folhas de videira na verga,
Seis mãos numa porta aberta, a jogar dados de prata,
E os pés pontapeando os odres vazios,
Mas não havia nenhuma informação, e então continuamos
E chegámos à noite, nem um momento antes
Encontrando o lugar; foi (podes dizer) satisfatório.

Tudo isto foi há muito tempo, recordo,
E faria tudo isto de novo, que se firme
este registo.
Isto: fomos até aí levados para o
Nascimento ou para a Morte? Houve um nascimento, é certo,
Tínhamos provas e nenhuma dúvida. Tinha visto o nascimento e a morte,
Mas pensei que eram diferentes; este nascimento foi uma
Agonia dura e amarga para nós, como a Morte, a nossa morte.
Voltamos aos nossos lugares, estes Reinos,
Mas já não se está à vontade aqui, na antiga submissão,
Com um povo estrangeiro agarrado aos seus deuses.
Deveria estar feliz por outra morte.




ARIEL POEMS, 1927-1954
T. S. Eliot Complete Poems 1909-1962
Harcourt, Brace & World, 1988.
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa

Outros poemas

Secção 1: O FUNERAL DOS MORTOS

Porque não espero mudar de novo