Embora não espere mudar de novo

VI

Embora não espere mudar de novo

Embora não espere
Embora não espere mudar

Flutuando entre o ganho e a perda
Neste breve trânsito onde os sonhos atravessam 
O crepúsculo cruzado por sonhos entre nascer e morrer
(Abençoai-me pai) embora não queira desejar tais coisas
Da ampla janela rumo à costa de granito
As brancas velas ainda voam em direcção ao mar, voando para o mar
       com asas intactas

E o coração perdido endurece e se alegra
No lilás perdido e nas vozes do mar perdido
E o fraco espírito apressa-se em rebelar-se
Pela vara de ouro dobrada e o cheiro do mar perdido
Acelera para recuperar
O grito da codorna e a rodopiante tarambola
E o olho cego cria
As formas vazias entre os portões de marfim
E o cheiro renova o sabor salgado da arenosa terra

Este é o momento de tensão entre morrer e nascer
O lugar de solidão onde três sonhos se cruzam
Entre rochas azuis
Mas quando as vozes do teixo se afastam
Que outro teixo seja sacudido e responda.

Bendita irmã, santa mãe, espírito da fonte, espírito
       do jardim,
Não nos deixais zombar de nós com falsidade
Ensinai-nos a nos inquietar e não nos inquietar
Ensinai-nos a permanecer em sossego
Ainda que seja entre essas rochas,
A nossa paz em Sua vontade
E mesmo entre essas rochas
irmã, mãe
E espírito do rio, espírito do mar,
Permiti que não seja apartado 

E deixai que o meu grito Te alcance.




ASH-WEDNESDAY, 1930
T. S. Eliot Complete Poems 1909-1962
Harcourt, Brace & World, 1988.
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa



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O título corresponde à 1ª linha do poema. (NdT)

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