Na primeira curva da segunda escada

III

Na primeira curva da segunda escada

Voltei-me e vi embaixo
A mesma forma retorcida no corrimão
Debaixo do vapor no ar fétido
Lutando com o diabo das estrelas que veste
A face enganosa da esperança e desespero.

Na segunda curva da segunda escada
Deixei-os retorcendo, virando para baixo;
Não havia mais rostos e a escada era escura,
Húmida, irregular, como a boca de um velho balbuciando, após 
reparar os dentes,
Ou a garganta dentada de um velho tubarão.

Na primeira curva do terceiro degrau
Era uma janela com a fenda inchada como o fruto da figueira
E além da flor do espinheiro e uma cena de pasto
A figura de costas largas vestiu-se de azul e verde
Encantou o tempo de maio com uma flauta antiga.
O cabelo desgrenhado é doce, o cabelo castanho sobre a boca desgrenhada,
O cabelo lilás e castanho;
Há distracção, música da flauta, paradas e passos da mente
        sobre a terceira escada,
Desvanecendo, desvanecendo; força além da esperança e desespero
Subindo a terceira escada.

Senhor, eu não sou digno
Senhor, eu não sou digno

        Mas dizei-me uma só palavra




ASH-WEDNESDAY, 1930
T. S. Eliot Complete Poems 1909-1962
Harcourt, Brace & World, 1988.
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa 



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O título corresponde à 1ªlinha do poema. (NdT)

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