Porque não espero mudar de novo

I

Porque não espero mudar de novo
Porque não espero
Porque não espero mudar
Desejando o dom deste homem e a liberdade desse outro
Já não me esforço para lutar por tais coisas
(Porque a velha águia deveria abrir as suas asas?)
Por que deveria lamentar
O poder dissipado do reino habitual?

Porque não espero conhecer de novo
A glória enferma da hora positiva
Porque não penso
Porque sei que não conhecerei
O único verdadeiro poder transitório
Porque não posso beber
Aí, onde as árvores florescem e brotam: Como, porque aí
       nada há de novo

Porque sei que o tempo é sempre tempo
E o lugar é sempre e único lugar
E o real é apenas real uma só vez 
E apenas real para um lugar  
Alegro-me porque as coisas são como são e
renuncio ao rosto abençoado
E renuncio à voz
Porque não posso esperar mudar de novo
Assim, alegro-me por ter que construir algo
Sobre o qual se alegrar

E rezar a Deus para ter misericórdia de nós
E rezo para que possa esquecer
Esses temas que discuti e expliquei
demasiado a mim mesmo
Porque não espero mudar de novo
Deixem que estas palavras respondam
Pois o que está feito, não deve ser feito de novo
Que o julgamento não pese tanto sobre nós

Pois essas asas não são mais asas que voem
Mas somente asas para vencer o ar
O ar que por inteiro é agora seco e pequeno
Menor e mais seco do que a vontade
Ensinai-nos a nos inquietar e não nos inquietar
Ensinai-nos a permanecer em sossego.

Rogai por nós pecadores agora e na hora da nossa morte
Rogai por nós agora e na hora da nossa morte.




ASH-WEDNESDAY, 1930
T. S. Eliot Complete Poems 1909-1962
Harcourt, Brace & World, 1988.
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa 



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O título corresponde à 1ªlinha do poema. (NdT)



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