Se a palavra perdida está perdida, se a palavra gasta está gasta
V
Se a não ouvida, não falada
Palavra não é dita, não é ouvida;
Ainda é a palavra não dita, a Palavra não ouvida,
A Palavra Sem uma palavra, a Palavra Dentro
Do Mundo e para o mundo;
E a luz brilhou nas trevas e
Contra a Palavra, o mundo inquieto
ainda rodava
Sobre o eixo da silenciosa Palavra.
Ó meu povo, o que te fiz.
Onde será encontrada a palavra, onde ressoará
A palavra? Aqui não, não há silêncio suficiente
Nem no mar nem nas ilhas, nem
No continente, no deserto ou na terra da chuva,
Para aqueles que andam na escuridão
Tanto durante o dia tanto mais durante a noite
A hora certa e o lugar certo aqui não estão
Nenhum lugar de graça para aqueles que voltam a face
Não há tempo para se alegrar com aqueles que caminham em ruído e
negam a voz
A irmã velada rezará por
Aqueles que andam na escuridão, que te escolheram e a ti se opuseram,
Aqueles que são tocados entre estação e estação,
tempo e tempo, entre
Hora e hora, palavra e palavra, poder e poder, aqueles
que esperam
Na escuridão? A irmã velada rezará
Pelas crianças junto ao portão
Que não partem e não pode rezar:
Rezará por aqueles que escolhem e se opõem
Ó meu povo, o que te fiz.
Será que a irmã velada entre os esguios
Teixos rezará por aqueles que a ofendem
E apavorados não podem render-se
E confessá-lo-lo perante o mundo e negá-lo entre as rochas
No último deserto entre as últimas rochas azuis
O deserto no jardim o jardim no deserto árido, cuspindo da boca a semente de uma magra maçã.
Ó meu povo.
ASH-WEDNESDAY, 1930
T. S. Eliot Complete Poems 1909-1962
Harcourt, Brace & World, 1988.
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa
___
O título corresponde à 1ª linha do poema. (NdT)